Post ligeiramente corporativo
Foi recentemente criado no Reino Unido um movimento – History Matters – que assumiu como missão valorizar o conhecimento da história do país, visando reconciliar a “cool Britannia” com o seu passado, a sua identidade. Porque, como dizia o Sr. Disraeli, “England cannot begin again”, um grupo variado de personalidades onde avultam o trabalhista republicano ( ou, melhor, anti-monárquico ) Tony Benn e o ex-editor da Spectator e actual ministro-sombra para o ensino superior Boris Johnson, o History Matters pretende chamar a atenção do Estado e da sociedade civil para a importância da divulgação da história do país e da preservação do património cultural pois, como bem refere um editorial do Daily Telegraph de ontem “Without a sense of history, we are not a nation, simply a random set of individuals born to another random set of individuals. Lose the thread that links us to our institutions and we lose ourselves. As King Lear says, nothing will come of nothing.”
Aqui está uma iniciativa que a intelligentzia portuguesa, a começar pelos historiadores, devia seguir com atenção. Orfãos de uma identidade histórica desde o 25 de Abril, que escondeu no armário os esqueletos incómodos dos heróis com que o salazarismo, na procura de legitimidade, havia preenchido o panteão da pátria portuguesa, jamais o novo regime foi capaz de criar um discurso nacional com que nos identificássemos. Apesar da aposta em fórmulas mais neutras, como a defesa da língua como elemento identitário e de ligação aos povos dos antigos territórios ultramarinos, não foi ainda possível, porém, recuperar um sentimento nacional. Os dias 25 de Abril, 10 de Junho, 5 de Outubro ou 1 de Dezembro são marcados por cerimónias balofas, penosamente cumpridas por políticos que, na esmagadora maioria dos casos, nem sequer sabem o que estão ali a fazer, e pelas romarias costumeiras do cidadão comum aos centros comerciais ou à praia, dependendo do tempo. Entretanto, vamo-nos contentando com epifenómenos como o futebol, que nos motivou a cantar o hino nacional com entusiasmo e a encher as janelas de bandeiras. Porém, o futebol, por muito apaixonante que possa ser, não pode ter o estatuto de símbolo, ainda por cima quase único, de uma comunidade nacional com mais de 800 anos. Aliás, é bem possível que a causa deste entusiasmo patriótico desproporcionado seja precisamente a ausência de qualquer outro fenómeno mobilizador e aglutinador. Em suma, “history matters”.
Aqui está uma iniciativa que a intelligentzia portuguesa, a começar pelos historiadores, devia seguir com atenção. Orfãos de uma identidade histórica desde o 25 de Abril, que escondeu no armário os esqueletos incómodos dos heróis com que o salazarismo, na procura de legitimidade, havia preenchido o panteão da pátria portuguesa, jamais o novo regime foi capaz de criar um discurso nacional com que nos identificássemos. Apesar da aposta em fórmulas mais neutras, como a defesa da língua como elemento identitário e de ligação aos povos dos antigos territórios ultramarinos, não foi ainda possível, porém, recuperar um sentimento nacional. Os dias 25 de Abril, 10 de Junho, 5 de Outubro ou 1 de Dezembro são marcados por cerimónias balofas, penosamente cumpridas por políticos que, na esmagadora maioria dos casos, nem sequer sabem o que estão ali a fazer, e pelas romarias costumeiras do cidadão comum aos centros comerciais ou à praia, dependendo do tempo. Entretanto, vamo-nos contentando com epifenómenos como o futebol, que nos motivou a cantar o hino nacional com entusiasmo e a encher as janelas de bandeiras. Porém, o futebol, por muito apaixonante que possa ser, não pode ter o estatuto de símbolo, ainda por cima quase único, de uma comunidade nacional com mais de 800 anos. Aliás, é bem possível que a causa deste entusiasmo patriótico desproporcionado seja precisamente a ausência de qualquer outro fenómeno mobilizador e aglutinador. Em suma, “history matters”.
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