07 setembro 2008

Os republicanos e o Eduardo Nogueira Pinto

Os Republicanos (e o Eduardo Nogueira Pinto) estão felicíssimos com a escolha de Palin para eventual vice-presidente, vista como uma mudança positiva e real. Afinal de contas, falamos de uma mulher! E que só é atacada porque é uma mulher! Mas só ela. Porque as mesmas pessoas que criticavam a Clinton por se queixar de sexismo são algumas das mesmíssimas pessoas que referem a Palin como vítima desse mal.


Ora, Palin não é mais do que o Bernardino Soares do Partido Republicano. A forma como o PCP apresentou na altura o "jovem mais velho de Portugal", o estalinista mais estalinista depois de Cunhal, o amigo da democracia norte-coreana, como símbolo da sua renovação é o mesmo modo com que o partido republicano apresenta Palin como símbolo de mudança.


Uma mulher que, na verdade, incorpora tudo o que há mais de republicano: é de um quase autismo em relação ao resto do mundo (até 2007 nunca tinha saído do país), refere-se à guerra no Iraque como uma missão divina, quer alargar a exploração petrolífera aos Parques Naturais do Alaska, nega a influência humana no aquecimento global, apoia a National Rifle Association, defende o ensino do criacionismo nas escolas, etc, etc. Percebe-se o encanto de Eduardo Nogueira Pinto pela senhora.


Se há algo que caracteriza os republicanos norte-americanos é uma hipocrisia viscosa e despudorada, um moralismo que só se aplica à vida alheia, com uma sobranceria característica de quem se julga naturalmente superior e que acha ultrajante (e imoral) que essa sua hipocrisia seja exposta. Não é à toa que os populares (ou centristas, sei lá como é eles se auto-intitulam ao meio-dia de 7 de Setembro de 2008) portugueses se sentem com eles tão identificados.


Uma coisa que me tem surpreendido nas nossas classes dirigentes é a sua falta de pudor quando dizem algumas das suas muitas barbaridades, mas isso parece generalizado, e o ENP fá-lo alegremente. Gosta que a religião interfira na política: «Já se sabe que Sarah Palin veio mobilizar a ala religiosa, sem a qual, goste-se ou não (eu gosto), nenhum republicano ganha eleições nacionais.» (deve ser amigo desta senhora), defende o destruir dos parques naturais elogiando o «aumento da produção de petróleo», usa de ironia para criticar o sistema nacional de saúde defendido pelos democratas e é apologista, claro, da «diminuição da despesa pública» (os pobres que não o sejam e vão morrer longe); vibra com uma «política externa (norte-americana) autónoma das instituições supranacionais» (o que é bom é a guerra fria, os Vietnames e os Iraques), e, com um tom depreciativo, diz que na convenção democrata se falava de coisas como o «“sonho americano” (e) De esperança». Puff, o que é bom é os mesmos de sempre governarem de acordo com os seus interesses de corporativos, instilando medo e terror para que vozes bélicas captem mais votos. A receita de sempre. Claro que para isto resulte é necessário manter as pessoas educadas ao nível do criacionismo. E há pessoas que se alegram com isso.

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