O segundo melhor poeta em português do século passado - a seguir, claro, ao brasileiro João Cabral de Melo e Neto, o maior poeta da língua. Vergonhosamente editado desde que deixou de estar restrito às belas edições pioneiras da Ática. Isto porque Pessoa, que gostava de fingir que era inglês, deixou, com preguiça e desmazelo bem portugueses, quase toda a obra por publicar (tal como, aliás, Camões com a sua poesia lírica, séculos atrás). Daí a célebre arca a rebentar de rascunhos por todos os lados. As edições da Ática, que foram as primeiras e, durante décadas, as únicas, tiraram da arca apenas poemas minimamente acabados e com alguma qualidade. Depois, pegou a moda de raspar a arca, sem deixar gatafunho nenhum por publicar. As odiosas edições da Assírio, como a da fotografia do post, são o culminar do processo. Tijolos imanuseáveis a abarrotar de fragmentos truncados e ilegíveis, com um poema razoável em vinte, se tanto, e que se vendem a preço de ouro como edições para o grande público. Gatunos.
Epá, isso é giro e tal (e a razão não é desconhecida da tua argumentação) mas nestes casos lembro-me sempre do Kafka, que também não queria que as coisas dele fossem publicadas.
Bem, o Pessoa, como toda a gente, tinha (tem) todo o direito em não querer que todos os disparates que lhe ocorreram escrever aparecessem em público.
Todos nós somos reservados no que dizemos aos íntimos, ou no íntimo, e que toda a gente lhe possa aceder é uma devassa. Do mesmo modo que, apesar da qualidade do que escreveu, talvez o Kafka se sinta (se existir algo de Kafka que ainda sente o que quer que seja) um pouco violentado por ver a sua alma kafkiana exposta por aí.
Eu próprio deveria ter o direito, ao qual não me reservei, de não escrever estes disparates em público. Mas, assim como assim, nunca levei muito a sério o que eu quero ou deixo de querer.
3 Comentários:
O segundo melhor poeta em português do século passado - a seguir, claro, ao brasileiro João Cabral de Melo e Neto, o maior poeta da língua. Vergonhosamente editado desde que deixou de estar restrito às belas edições pioneiras da Ática. Isto porque Pessoa, que gostava de fingir que era inglês, deixou, com preguiça e desmazelo bem portugueses, quase toda a obra por publicar (tal como, aliás, Camões com a sua poesia lírica, séculos atrás). Daí a célebre arca a rebentar de rascunhos por todos os lados. As edições da Ática, que foram as primeiras e, durante décadas, as únicas, tiraram da arca apenas poemas minimamente acabados e com alguma qualidade. Depois, pegou a moda de raspar a arca, sem deixar gatafunho nenhum por publicar. As odiosas edições da Assírio, como a da fotografia do post, são o culminar do processo. Tijolos imanuseáveis a abarrotar de fragmentos truncados e ilegíveis, com um poema razoável em vinte, se tanto, e que se vendem a preço de ouro como edições para o grande público. Gatunos.
AM
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Epá, isso é giro e tal (e a razão não é desconhecida da tua argumentação) mas nestes casos lembro-me sempre do Kafka, que também não queria que as coisas dele fossem publicadas.
Bem, o Pessoa, como toda a gente, tinha (tem) todo o direito em não querer que todos os disparates que lhe ocorreram escrever aparecessem em público.
Todos nós somos reservados no que dizemos aos íntimos, ou no íntimo, e que toda a gente lhe possa aceder é uma devassa. Do mesmo modo que, apesar da qualidade do que escreveu, talvez o Kafka se sinta (se existir algo de Kafka que ainda sente o que quer que seja) um pouco violentado por ver a sua alma kafkiana exposta por aí.
Eu próprio deveria ter o direito, ao qual não me reservei, de não escrever estes disparates em público. Mas, assim como assim, nunca levei muito a sério o que eu quero ou deixo de querer.
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