01 outubro 2007

Prova de maturidade


Há dias, Daniel Oliveira, falando a respeito da trasladação dos restos mortais de Aquilino Ribeiro para o Panteão Nacional, referiu, com a sua proverbial cretinice, que a homenagem ao escritor era justa, quanto mais não fosse por este ter participado na preparação do regicídio.
Embora as palavras do comentador do Eixo do Mal nunca devam ser levadas muito a sério, a sua boutade suscitou-me uma pergunta. Vai o Estado prestar alguma homenagem ao Rei D. Carlos por ocasião do centésimo aniversário da sua morte, que no próximo ano se comemora? Apesar de vivermos num regime republicano, devem as autoridades ignorar a data em que o Chefe de Estado legítimo de um regime liberal constitucional ( a "ditadura" de João Franco - as aspas não foram escritas por acaso - tem muito que se lhe diga, não havendo lugar neste post, que vai ser longo, para desenvolver o assunto ), que serviu com dedicação e da melhor forma que soube - ou pôde - o seu País, ao tempo a braços com uma crise financeira severa e com um sistema político desacreditado, foi abatido a tiro? Penso que não.
Porém, é quase certo que a evocação da data será feita apenas pelos monárquicos ( e, mesmo assim, nem todos... ), com a habitual missa em S. Vicente, sem que o Estado preste ao soberano e ao seu primogénito, públicas homenagens, o que é profundamente lamentável.
A explicação para este comportamento é por demais conhecida. A matriz ideológica do republicanismo em Portugal - muito devedora do jacobinismo do dr. Afonso Costa e do seu Partido Democrático - é essencialmente, negativa: é anti-clerical e anti-monárquica. Assim, para os actuais militantes republicanos - poucos, mas influentes - D. Carlos foi um alvo legítimo e a sua morte, tal como a do Príncipe Real, é vista ( embora, por pudor, que Daniel Oliveira não teve, muitos o não assumam ) como um momento alto da luta "libertadora" e "iuminada" do republicanismo contra o obscurantismo clerical e a decadência aristocrática.
Fará, porém, sentido que, volvidos quase cem anos sobre a implantação da República, esta posição sectária e radical se mantenha? Será que as figuras do jesuíta e do rei continuam a povoar os pesadelos desta gente? É estranho, de facto.
A atitude das autoridades no dia 1 de Fevereiro de 2008 permitir-nos-á saber se o regime republicano se sente maduro e seguro de si. Se o malogrado monarca for, uma vez mais, esquecido pelo Estado que serviu e pelo qual morreu, é lícito perguntar: de que tem medo a República?

1 Comentários:

Blogger Dr Dude disse...

Porque é que os adeptos da monarquia não se vingam, dando um tiro no pastel de Boliqueime? Ao menos faziam, finalmente, um favor ao país...

05 outubro, 2007 22:03  

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