21 julho 2008

Resposta

Já disse que lamentava o que fiz de errado. Tenho pena que a mão estendida tenha ficado sem resposta. Ou melhor, que a resposta tenha sido a que foi.
Sim, é possível e mesmo provável que por trás da fachada de radicalismo político e social que montaste eu tenha sido incapaz de discernir os traços mais afáveis do Sir Humphrey. Em meu favor, advogo no entanto que tal discernimento se foi tornando cada vez mais difícil ao longo dos últimos meses. Porque essa tua tolerância, esse respeito e esse bom humor de que falas se foram tornando cada vez menos evidentes aos meus olhos enquanto lia e via os teus posts.
É possível que estejamos perante um caso extremo de percepções subjectivas contrastantes: o que tu dizias com um sorriso na boca, eu lia-o como uma série de ataques onde a boa-fé já não era o tom dominante. Cada um poderá formar-se uma opinião relendo os posts e os comentários que ficaram gravados no blogue. De qualquer das maneiras, penso que não basta escudares-te no argumento de que os teus posts eram alegres caricaturas de situações sem grande importância. A brincar, a brincar vão-se dizendo coisas sérias, e às vezes ferem-se susceptibilidades. Não existiu nunca nenhum código de conduta explícito no Feno, mas ao longo dos anos foi-se esboçando uma certa moderação em temas onde – precisamente porque nos fomos conhecendo melhor uns aos outros – aprendemos que certas palavras podiam irritar ou mesmo ferir com gravidade o outro. Deixámos por exemplo de ter posts regulares sobre a imoralidade de comermos carne, ou sobre o não-direito à existência de Israel; e eu tão pouco me diverti a fazer posts anti-clericais, anti-monárquicos ou pró-aborto todas as semanas.
Garanto-te que vou ter saudades dos teus posts mais líricos, das sugestões musicais, e mesmo de um ou outro produto bonito da Louis Vuitton. Continuarei a seguir o código acima enunciado e a esperar que um dia te sintas à vontade para voltar a escrever aqui. Pela vertente pessoal do ataque que te dirigi, peço desculpa. Os que me conhecem sabem que o pedido é sincero. Pelo resto, acho que fiz o que tu também terias feito: defender as minhas convicções e, um pouco pelo menos, a minha honra enquanto cidadão de uma Europa que se quer livre e democrática, de uma sociedade empenhada em ultrapassar, pouco a pouco, as heranças mais sombrias do seu passado. Para mim, amar a liberdade e aspirar a uma sociedade menos injusta não se coaduna com a nostalgia de instituições e de modos de viver contrários a esses princípios.

2 Comentários:

Anonymous Anónimo disse...

Registo o pedido de desculpas. Espero, em ocasião mais propícia, discutir algumas questões ainda por esclarecer inteiramente.

E.

22 julho, 2008 16:04  
Blogger Radagast disse...

Não tenho tido tempo de esgrimir posts e argumentos por cá. Acho, sinceramente, que todos deveriam estar dispostos a dar a cara e gastar a saliva (ou a ponta dos dedos) a defender o que para os outros parece ser indefensável. Argumentando de forma clara. Talvez fosse mais interessante assim. Eu, pessoalmente, preferia que assim fosse.

No que a mim pode dizer respeito, só gostaria de esclarecer que nunca achei o consumo de carne imoral. Acho sim, que a forma como os animais são tratados antes da morte o é, e jamais deixaria de o defender. Tal como jamais deixarei de afirmar que a tourada é uma barbárie inqualificável e injustificável.

Por outro lado, não defendo a não-existência de Israel. Porém, não escondo que acho o seu comportamento moral e político, em geral, iníquo. Uma repetição, muito, muito esbatida, de coisas que não se deveriam repetir.

Se me moderei nas críticas a Israel não foi por receio de ferir susceptibilidades políticas, mas sim de magoar o espírito de alguns de nós. Os sentimentos nem sempre seguem de mãos dadas com a razão, mas são mais importantes do que esta; principalmente quando envolvidas pessoas que nos são queridas.

Assuntos libertos de uma carga emotiva tão grande deveriam poder ser abordados livremente; aceitando, inclusivamente, um ou outro comentário mais cáustico. Acho que o toca e foge funciona mal nestes meios.

De todos os modos, a conversar é que nos entendemos e será com gosto que visitarei S.H. no seu novo poiso, tal como espero a sua visita nesta casa que será sempre a sua.

23 julho, 2008 01:23  

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