26 setembro 2008

O «nosso» capitalismo

Não é curioso as grandes empresas financeiras andarem «ó tio, ó tio» (neste caso «ó tio Sam, ó tio Sam»)?


Ora, deixem cá ver se percebi como funciona este curioso capitalismo:

Separa-se a finança da economia real, de modo a que aquela cresça artificialmente sem uma relação directa com esta; contudo, mantém-se a relação suficientemente próxima para que, caso as coisas corram mal, esta seja afectada por aquela para obrigar o «público» a resgatá-la.


Depois, como o estado tem o péssimo hábito de regulamentar e fiscalizar, defende-se a necessidade de pouco estado, e que este mantenha as suas ineptas mãozinhas fora da iniciativa privada. Os financeiros e empresários é que sabem como se fazem as coisas. Consolida-se esta ideia junto a opinião pública, por exemplo, com amplamente divulgadas reuniões de empresários «preocupados» com o estado do…estado. No nosso país temos o caso do Compromisso Portugal (não deixa de ser curioso, se há coisa em Portugal mais inepta do que o estado é o nosso tecido empresarial. Ver homens que fogem publicamente ao pagamento de centenas de milhares de euros de impostos proclamar uma superioridade moral face ao estado é sintomático dos valores das nossas elites).


Se as coisas correm bem, os administradores embolsam milhões em prémios e salários e as empresas seguem o seu caminho de sucesso. Se as coisas correm mal os administradores embolsam milhões em prémios e salários e o estado salva as empresas. É o negócio perfeito para os capitalistas selvagens.


Eu acho bem que se levem a cabo estes resgates, mas os bens das empresas têm de reverter para o estado. Caso contrário, os contribuintes andam a sustentar riscos alheios. Riscos corridos porque se sabe que não há nada a perder.


O sistema capitalista, quando funciona, eleva a qualidade de vida da generalidade da população. Quando é abusado por uns quantos é esta generalidade da população que é prejudicada. O capitalismo é arriscado, os melhores são bem sucedidos, os piores perdem. Esta é a natureza das coisas. É este o motor da inovação. Assim se premeiam os mais eficientes e, espera-se, os que melhor contribuem para a sociedade como um todo. Se apostamos num capitalismo que suga os cidadãos quando correm bem as coisas e os onera quando correm mal, estamos num campo da selvajaria que não beneficia se não uns poucos. É preferível uma sociedade em que os vencedores ganham um pouco menos para que os vencidos vivam com dignidade.


P.S. E há uma outra mentira que teima em se perpetuar. Há anos que se incentivam os cidadãos a colocarem as suas poupanças e seguros em instituições privadas, repetindo ad nausea que o estado não terá capacidade para garantir as pensões e afins. Constata-se que a realidade é inversa. É o estado que serve de garante destas instituições privadas. As grandes empresas financeiras e de seguros têm, ao longo da história, recorrido ao estado para as salvar de apuros. O que se passa nos nossos dias não é diferente, apenas mais acentuado e despudorado.

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