28 maio 2007

Letras e realidade

Ou, como diz o adágio goetheiano: Dichtung und Wahrheit. A prosa académica do BB, saboreada furtivamente numa noite de verão em Santa Monica, recorda-me como escrever uma tese é um exercício de malabarismo em que às vezes esquecemos onde está o sonho, e onde a realidade.
E ainda bem que temos esta opção. Por exemplo, quando se trata de miúdas. As de cá são na maioria assim:


Não, não é uma fata morgana. A fata morgana é esta, do Raymond Chandler:

"It seemed there was a woman and she was sitting near a lamp, which was where she belonged, in a good light. [...] She was so platinumed that her hair shone like a silver fruit bowl. She wore a green knitted dress with a broad white collar turned over it. There was a sharp-angled glossy bag at her feet. She was smoking and a glass of amber fluid was tall and pale at her elbow. [...]

I stopped these furtive movements and said: 'Hello.'

The woman withdrew her gaze from some distant mountain peak. Her small firm chin turned slowly. Her eyes were the blue of mountain lakes. Overhead the rain still pounded, with a remote sound, as if it was somebody else's rain.

'How do you feel?' It was a smooth silvery voice that matched her hair. It had a tiny tinkle in it, like bells in a doll's house. [...]

She was tall rather than short, but no bean-pole. She was slim, but not a dried crust. She went back to her chair. [...]

She was silent. Smoke floated dimly from her cigarette. She moved it in the air. Her hand was small and had shape, not the usual bony garden tool you see on women nowadays. [...]

I stood beside her, touching her knees. She came to her feet with a sudden lurch. Our eyes were only inches apart.

'Hello, Silver-Wig', I said softly. [...]

I leaned against her and pressed her against the wall with my body. I pushed my mouth against her face. I talked to her that way. 'There's no hurry. All this was arranged in advance, rehearsed to the last detail, timed to the split second. Just like a radio program. No hurry at all. Kiss me, Silver-Wig'.

Her face under my mouth was like ice. She put her hands up and took hold of my head and kissed me hard on the lips. Her lips were like ice, too.

I went out through the door and it closed behind me, without sound, and the rain blew in under the porch, not as cold as her lips." (The Big Sleep)

*Suspiro*


9 Comentários:

Anonymous Anónimo disse...

Muito lindo, andares do outro lado do Atlântico a fotografar rabos. Ainda por cima tirada de uma coisa que parece uma duna. Sem comentários.

BB

28 maio, 2007 21:22  
Blogger Dr Dude disse...

Com essa pose pode ser que te contratem para ministro na Polónia...

29 maio, 2007 00:01  
Anonymous Anónimo disse...

Se o Dude fosse poeta, escreveria quadras como esta, do grande Fernando Assis Pacheco, sobre uma beldade galega:

Um cu que se desvela em Agosto em Ourense / redondo para olhar um cu magnificente / um cu como um bisonte / o teu cu Maruxa adivinhado num restaurante

AM

29 maio, 2007 00:14  
Blogger Dr Dude disse...

Então e o poema do Jorge de Sena sobre a orgia da praia de Santa Barbara, já o encontraste?

29 maio, 2007 05:55  
Anonymous Anónimo disse...

Esse é chato, o do Assis é melhor. O Assis era um grande, dizia palavrões e tinha sentido de humor, coisa raríssima na literatura portuguesa, que é quase sempre solene e chata (como a alemã, aliás). Morreu relativamente novo, com 58 anos, fulminado por um ataque cardíaco na Bucholz (tinha quase 200 quilos, a terra deve ter tremido quando caiu ao chão). Ao morrer cedo demais, imitou os dois grandes cómicos das letras nacionais: Eça (morto com 55 anos) e Alexandre O'Neill (morto com 62). Entretanto, chatos profissionais como o Manuel Oliveira, o Eduardo Lourenço e o Saramago parece que são imortais. É a vida.

AM

29 maio, 2007 13:30  
Anonymous Anónimo disse...

E entao aquele escrito do Pessoa em que ele descreve, em mais de vinte paginas, um pelo pubico perdido no meio de um bacanal numas saunas em Istanbul? Mesmo assim ainda mandou umas bocas a' Ofelia la' pelo meio. E' por estas e por outras que acho a Casa Amarela e o ultimo livro do Ian McEvan um fake.

BB

29 maio, 2007 19:24  
Blogger Dr Dude disse...

Bom, fiquemo-nos pela Maruxa, entrevista a servir um polvinho em molho de salsa, ou umas moelas galegas. Ai, as saudades que tenho do Norte...

30 maio, 2007 01:36  
Anonymous Anónimo disse...

Não li o último Mcwan, mas inclino-me a concordar com o BB em relação à Casa Amarela.

AM

30 maio, 2007 02:41  
Blogger Dr Dude disse...

Pessoal, eu sei que estamos todos um bocado caquéticos, mas a cena dos pêlos púbicos não era noutro filme da trilogia? Na Comédia de Deus, por exemplo? Seja como for, Pessoa nada tem que se compare. Bem sei que o vesgo também frequentava leitarias e tinha amores com uma moça low average, mas no filme, há a mercearia, os pacotes de leite UHT meio gordo, o carrinho para puxar os pacotes de leite UHT pela calçada acima, o álbum (Livro dos Pensamentos, ou algo assim), a vista pela janela... ou seja, Lisboa Lisboa, sem heterónimos e mariquices dessas...

30 maio, 2007 23:14  

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