23 novembro 2007

Os nadas dos que se crêem tudo

Hoje na P2 temos um artigo sobre o Ao Volante do Poder, de Pedro Faria. Dizem que era o «motorista quase oficial da elite política e diplomática portuguesa em Nova Iorque» e que, a contar pela curta descrição do livro, aí nos lança pequenas pérolas. Infelizmente, habituamo-nos a encolher os ombros perante algumas dessas coisas, mesmo em pessoas que nos são próximas. Fala o autor de uma elite portuguesa que se crê mais que os outros, sejam eles portugueses ou norte-americanos. Afinal de contas são ministros, embaixadores e secretários de estado, que se caracterizam por fumar onde não se deve, ter a mania das grandezas, deixar gorjetas de um cêntimo em restaurantes selectos e atirar maços de tabaco vazios pela janela fora.

«A bazófia, o nacional-espertismo, a arrogância, o desenrascanço, a cunha: nada do que Pedro Faria descreve (...) nos é estranho; pelo contrário: faz parte da imagem que temos de nós próprios enquanto colectivo. O que é novo, e melindrável (e embaraçoso, já que se tratam de representantes políticos e diplomáticos do país), é constatar que podemos não ser os únicos a sabê-lo. É o confronto de uma certa tacanhez lusitana com a grande metrópole nova-iorquina».

«Escreve Pedro Faria: "Lidar com a governação portuguesa em Nova Iorque é mais ou menos como lidar com o universo de três mil taxistas que trabalham em Lisboa. (...) Os assessores que pedem para colocar "doutor" antes do nome na factura de hotel (ou) a irascibilidade de Martins da Cruz, ex-ministro dos Negócios Estrangeiros».

Conta-nos ainda aquela vez «Quando um ministro está a fumar dentro do hotel Plaza e vem um empregado dizer "desculpe, mas não pode fumar aqui" e ele "ó Pedro Faria, diga-lhe que eu sou o ministro de...", o empregado quer lá saber se ele é o ministro de - ele tem de ir fumar para a rua, como toda a gente. Até podia ser o Papa - não pode fumar, não pode fumar! Pensam que estão em Portugal mas não estão..."» Como se Portugal fosse um buraco negro da decência e respeito pelo Outro. E é, se se é ministro ou afins.

E a verdade é que eles assumem esse preconceito social sem pudor. Confesso que a minha parte preferida, e que serve, por si só, para ilustrar a realidade do que aqui se fala, surge quando «A revista Sábado confrontou a ex-secretária de Martins da Cruz, Maria Margarida Corrêa de Aguiar, com os episódios relatados no livro que os envolvem. A réplica foi virulenta. "E aquilo que é contado por um motorista de limusina, o que é que vale?", respondeu Corrêa de Aguiar».

Pois, nada.

4 Comentários:

Blogger NUNO FERREIRA disse...

Nós criámos um blog do livro: www.aovolantedopoder.blogspot.com

Obrigado

Nuno Ferreira

25 novembro, 2007 16:40  
Anonymous Anónimo disse...

O comentário é natural, afinal de contas a senhora é uma Correia sem e, o que, como dizia uma certa personagem do Eça, é "chique a valer"... enfim, a elite nativa no seu melhor.

Sir H.

26 novembro, 2007 16:58  
Anonymous Anónimo disse...

Ups!... Correia sem i, claro. Peço desculpa pelo engano, de que só agora me apercebi. É do cansaço, pois, não sendo eu membro da elite - hélas - tenho que me dedicar ao detestável e vulgar hábito de trabalhar.

Sir H.

27 novembro, 2007 21:29  
Anonymous Anónimo disse...

Pedro Faria deveria ter ficado caladinho. Ninguém é perfeito, nem ele, e foram estas pessoas de quem ele fala, que fizeram a sua empresa e que levava sustento para a família.
Para quê tanta raiva e tanta vingança? Faltaram ao que prometeram? Cabeça em frente e seguir caminho. Dos fracos não reza a históriã!

20 agosto, 2008 12:39  

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