Dois estados, em paz?
A necessidade de defesa das suas populações é um direito inalienável do estado de Israel. O não olhar a meios para o garantir é inaceitável. Richard Falk, representante do conselho dos direitos humanos da ONU, sintetizou-o dizendo que "Israel está a cometer uma chocante série de atrocidades, atacando uma população cercada e indefesa"; mas talvez ter sido bombardeado ele próprio lhe tenha toldado a visão.
Os argumentos para esta guerra assentam nos rockets do Hamas, que mataram 28 pessoas nos últimos oito anos. Fazer desta situação uma questão de números parece subestimar que cada vida humana é única e irrepetível. Porém, nestas semanas de ataques, o exército israelita matou mais de 1500 pessoas. Se isto não é desproporcionado não sei o que será… O governo israelita já veio minimizar estes números dizendo que metade destas pessoas eram militares do Hamas. I.e., o próprio exército israelita reconhece ter morto 700 pessoas inocentes, em retaliação às referidas 28. E os inocentes não têm onde se esconder, nem sequer os edifícios da ONU, onde civis buscando refúgio foram atacados.
Numa das escolas que a força aérea israelita atacou morreram 30 crianças. Não é para fazer a contabilidade das criancinhas mortas, apenas para chamar a atenção que num só dia, nesse ataque, nessa escola, morreram mais pessoas do que as que foram mortas por todos os rockets do Hamas em oito anos.
É esta acção a solução para o problema? Acabará este bombardeamento maciço com os rockets? Atacar a Faixa de Gaza deste modo apenas reforça os radicais do Hamas, tal como os ataques do Hamas reforçam as ideias dos radicais israelitas.
Ao fim de dois anos ambos os lados estão bloqueados num padrão repetitivo de retaliações. Anos de uma estratégia coerciva não levaram a lado nenhum. Os Israelitas não estão seguros e os Palestinianos não têm um estado.
Enquanto rockets eram lançados, assentamentos israelitas iam avançado, mas a única opção dada aos palestinianos foi sempre "ou aceitam, ou aceitam". A palavra dada nunca foi uma prioridade de parte a parte, ninguém tem uma superioridade moral nesse campo. O comportamento de Israel incomoda-me mais por ser, internamente, uma democracia liberal. Esta sua acção exterior dá ao mundo uma péssima imagem de Israel mas também de todo o Ocidente. Uma democracia que subverte os seus princípios basilares de acordo com a conjuntura, procurando submeter os demais a condições completamente ilegais e desumanas, que quando aplicadas aos seus cidadãos são consideradas inaceitáveis, não é uma verdadeira democracia.
Os Israelitas devem ter a sua segurança garantida, e aos Palestinianos deve ser dada a esperança de poderem vir a viver com dignidade. Até agora as negociações têm assentado em cedências unilaterais por parte do lado mais fraco; e isso nem é escamoteado. Numa entrevista a uma soldado israelita esta dizia compreender que as condições dos Palestinianos eram complicadas, mas que isso não justificava as suas acções porque "...houve uma guerra e eles perderam. Deviam aceitá-lo e pronto".
E esta sexta-feira li alguém defender a operação em Gaza dizendo que tolerar os rockets do Hamas era a mesma coisa que aceitar que se lançassem rockets para o Marais parisiense. Bem, talvez se pudesse comparar a situação caso os italianos invadissem Paris, colocassem cinquenta mil dos franceses sobreviventes a viver na Ile de la Cité, lhes cortassem a água, a luz, a comida e os medicamentos.
Neste jogo de comparações alguém imagina o que aconteceria caso o Irão atacasse duas vezes na mesma semana um edifício da ONU, matando dezenas de pessoas no seu interior?
1 Comentários:
Impossível, não deixariam o Irão chegar ao segundo ataque!
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