20 janeiro 2009

Dois estados, em paz?

A necessidade de defesa das suas populações é um direito inalienável do estado de Israel. O não olhar a meios para o garantir é inaceitável. Richard Falk, representante do conselho dos direitos humanos da ONU, sintetizou-o dizendo que "Israel está a cometer uma chocante série de atrocidades, atacando uma população cercada e indefesa"; mas talvez ter sido bombardeado ele próprio lhe tenha toldado a visão.


Os argumentos para esta guerra assentam nos rockets do Hamas, que mataram 28 pessoas nos últimos oito anos. Fazer desta situação uma questão de números parece subestimar que cada vida humana é única e irrepetível. Porém, nestas semanas de ataques, o exército israelita matou mais de 1500 pessoas. Se isto não é desproporcionado não sei o que será… O governo israelita já veio minimizar estes números dizendo que metade destas pessoas eram militares do Hamas. I.e., o próprio exército israelita reconhece ter morto 700 pessoas inocentes, em retaliação às referidas 28. E os inocentes não têm onde se esconder, nem sequer os edifícios da ONU, onde civis buscando refúgio foram atacados.


Numa das escolas que a força aérea israelita atacou morreram 30 crianças. Não é para fazer a contabilidade das criancinhas mortas, apenas para chamar a atenção que num só dia, nesse ataque, nessa escola, morreram mais pessoas do que as que foram mortas por todos os rockets do Hamas em oito anos.


É esta acção a solução para o problema? Acabará este bombardeamento maciço com os rockets? Atacar a Faixa de Gaza deste modo apenas reforça os radicais do Hamas, tal como os ataques do Hamas reforçam as ideias dos radicais israelitas. E será que atacar uma maioria de pessoas desesperadas vai quebrar a vontade de retaliar? O ataque israelita visa recuperar a credibilidade militar perdida com o impasse do Líbano, e limita-se a usar uma estratégica de terra queimada para quebrar o Hamas. E, como não querem reocupar a Faixa de Gaza, os soldados israelitas usaram o máximo da sua capacidade destruidora.


Ao fim de dois anos ambos os lados estão bloqueados num padrão repetitivo de retaliações. Anos de uma estratégia coerciva não levaram a lado nenhum. Os Israelitas não estão seguros e os Palestinianos não têm um estado.


Enquanto rockets eram lançados, assentamentos israelitas iam avançado, mas a única opção dada aos palestinianos foi sempre "ou aceitam, ou aceitam". A palavra dada nunca foi uma prioridade de parte a parte, ninguém tem uma superioridade moral nesse campo. O comportamento de Israel incomoda-me mais por ser, internamente, uma democracia liberal. Esta sua acção exterior dá ao mundo uma péssima imagem de Israel mas também de todo o Ocidente. Uma democracia que subverte os seus princípios basilares de acordo com a conjuntura, procurando submeter os demais a condições completamente ilegais e desumanas, que quando aplicadas aos seus cidadãos são consideradas inaceitáveis, não é uma verdadeira democracia.


Os Israelitas devem ter a sua segurança garantida, e aos Palestinianos deve ser dada a esperança de poderem vir a viver com dignidade. Até agora as negociações têm assentado em cedências unilaterais por parte do lado mais fraco; e isso nem é escamoteado. Numa entrevista a uma soldado israelita esta dizia compreender que as condições dos Palestinianos eram complicadas, mas que isso não justificava as suas acções porque "...houve uma guerra e eles perderam. Deviam aceitá-lo e pronto".


E esta sexta-feira li alguém defender a operação em Gaza dizendo que tolerar os rockets do Hamas era a mesma coisa que aceitar que se lançassem rockets para o Marais parisiense. Bem, talvez se pudesse comparar a situação caso os italianos invadissem Paris, colocassem cinquenta mil dos franceses sobreviventes a viver na Ile de la Cité, lhes cortassem a água, a luz, a comida e os medicamentos.


Neste jogo de comparações alguém imagina o que aconteceria caso o Irão atacasse duas vezes na mesma semana um edifício da ONU, matando dezenas de pessoas no seu interior?

1 Comentários:

Anonymous Anónimo disse...

Impossível, não deixariam o Irão chegar ao segundo ataque!

21 janeiro, 2009 03:13  

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