29 janeiro 2011

Misr

Egipto ergue-se. Ergue-se contra "o que deve de ser", contra o pão que aumenta, a pobreza que cresce, o pensamento forçado a calar-se; isto, enquanto fortunas oligárquicas, militares e petrolíferas, crescem desmesuradamente. Os últimos anos conheceram um crescimento do PIB na ordem dos 4%, num país onde a vida do comum cidadão é cada vez mais difícil.
Mesmo um povo habituado a um maleche pontuado com um encolher de ombros, acabaria por chegar ao seu momento "basta".
Porém, no Egipto, o regime gerou-se no exército, que, entretanto, se desviou do caminho de Nasser. O seu apoio aos protestantes é imprevisível, e contra o exército nenhuma revolução, ou reforma musculada, tem lugar.

Podemos estar perante um momento de transição, fundamental para o Médio Oriente, e para o mundo. Tunísia, Egipto, Jordânia, Argélia e Marrocos já se manifestam. O apoio, mesmo que passivo, do Ocidente, e um avanço justo, por ténue que seja, na Palestina, poderão ser uma bola de neve de justiça e democracia. Contudo, uma inércia activa, e a perpetuação da injustiça na Terra Santa poderão derreter essa bola de neve antes ainda de ter a oportunidade de rolar; e o mundo não será mais justo.
A democracia pode, deve, funcionar no Médio Oriente. Independentemente das suas idiossincrasias culturais, todos os indivíduos gostam de se poder pronunciar em liberdade e paz, todos gostam de ter uma participação na forma como são governados, e por quem são governados. Num mundo mais justo o poder é consesual, não imposto.
No Egipto democrático a Irmandade Muçulmana terá um peso mais forte de que o ocidente gostaria. Porém, é a juventude secular, sem esperança e vilipendiada, que se ergue. Esse será o seu contra-poder, não o da família Mubarak.
Em meados do século XX a Europa e os EUA nutriram o radicalismo islâmico, ao boicotarem o secularismo emergente no Médio Oriente. Nem sempre temos a oportunidade de mitigar erros passados.
Faz-me falta visitar o Egipto monumental, de povo afável e cultura milenar. Espero vir a fazer a próxima visita num Egipto mais pacífico, justo e democrático.

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