02 julho 2011

A quimioterapia e o cancro



Temos novos governantes.
O caminho para o fim da relevância do estado na comunidade começa, em Portugal, a ser caminhado.
O poder do sector financeiro consolida-se. Um sector que exige para si o domínio de recursos que ele próprio foi incapaz de gerar.
Os ministros serão menos, muito menos. Uma acção simbólica que poupa directamente uns dois ou três milhões de euros por ano mas que levará a uma incapacidade de gestão, de dedicação dos ministros, que terá consequências muito negativas a longo prazo. Desde logo, haverá ministros que não poderão estar presentes em reuniões europeias, porque algumas destas reuniões ocorrem simultâneo. Não são mesuráveis as perdas que a ausências destas reuniões poderão originar; reuniões onde muitas vezes se determina verbas a atribuir e políticas a seguir. A ausência de uma só destas reuniões (das centenas que terão lugar durante esta legislatura) poderá levar a perdas superiores a toda a poupança de quatro anos com a acumulação de ministérios.
São simbólicas, estas medidas, defendem. Se de simbolismos falamos também os podemos ver na eliminação do ministério da cultura, símbolo civilizacional que importa derrubar. Faz parte de uma estratégia (inconsciente, impensada?) de vedar aos menos privilegiados o acesso a uma cultura que não a do Tony Carreira. O outro prato da balança é o desvio de recursos para escolas privadas, que acabará, também, por contribuir para o agravar da assimetria de oportunidades. Leram o 1984...?
Mas mesmo estas decisões, estruturantes, são feitas de forma amadora. Passos Coelho, em dois anos, não consolidou um pensamento politico para lá dos lugares comuns dos cortes sociais e privatizações cegas. Pina Moura está nos Mello, Jorge Coelho na Mota-Engil, Ferreira do Amaral na Lusoponte; muito mais disto se vai ver no futuro. O Estado alienará bens e serviços que depois terá de subsidiar. Os privados retirarão o lucro que puderem e exigirão subsídios para os sectores privatizados dos quais não o poderão extrair. Nada de novo, apenas muito mais do mesmo. Empresas que foram construídas com base na contribuição dos cidadãos, coordenada pelo estado, serão alienadas para quem se arroga à capacidade de as melhor gerir, ainda que se tenha revelado incapaz de as criar.
Para além das privatizações a torto a direito, outra medida de curto prazo é a significativa redução da TSU a pagar pelas empresas (não a dos trabalhadores), compensada pelo aumento do IVA (pago pelos trabalhadores). Conhecendo o nosso miserável tecido empresarial, isto levará ao aumento dos lucros e não do investimento. Coordenado com o fim da justa causa para os despedimentos, a diminuição das indemnizações e o encurtar do periodo de subsídio de desemprego sou levado a concordar com Nicolau Santos (esse perigoso comuna) quando diz que " está em curso uma orientação política que visa desequilibrar os pratos de balança a favor do capital em detrimento do trabalho".
O trabalho não é relevante, o cidadão não é importante, a felicidade individual sustentada por uma rede comunitária não tem mais lugar. E o aumentar dos juros é disso sintomático: a indústria financeira estimula o aumento dos juros que irão ser pagos pelos contribuintes; e descobriu que pode exigir os juros que quiser. Com esta faca e queijo na mão oferece-se, generosa, para mitigar os seus efeitos se os estados para lá de lhes pagarem esses juros agiotas (por eles mesmos determinados) lhes oferecerem umas empresas lucrativas como brinde.
E isto porque um partido socialista esclerosado deixou vingar durante tantos anos um corrupto moral, gestor incompetente e político irresponsável. O Partido Socialista vendeu-se e vendeu-nos. É cúmplice, com o agravamento de o fazer com base na rasquice e venda da banha de cobra.
Resta esperar, sem muito esperar, que o novo PM não consiga concretizar tudo o que promete; apenas o suficiente para equilibrar o profundamente desiquilibrado.

Espero que a quimioterapia não supere o cancro.

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