29 janeiro 2011

Num mundo paralelo...

... perto de si, o famoso embaixador manco de Portugal no Egito sonha com neve no Médio Oriente. Quimeras! Um avião de combate do exército português (o "José Mourinho") terá de o resgatar em urgência.

Misr

Egipto ergue-se. Ergue-se contra "o que deve de ser", contra o pão que aumenta, a pobreza que cresce, o pensamento forçado a calar-se; isto, enquanto fortunas oligárquicas, militares e petrolíferas, crescem desmesuradamente. Os últimos anos conheceram um crescimento do PIB na ordem dos 4%, num país onde a vida do comum cidadão é cada vez mais difícil.
Mesmo um povo habituado a um maleche pontuado com um encolher de ombros, acabaria por chegar ao seu momento "basta".
Porém, no Egipto, o regime gerou-se no exército, que, entretanto, se desviou do caminho de Nasser. O seu apoio aos protestantes é imprevisível, e contra o exército nenhuma revolução, ou reforma musculada, tem lugar.

Podemos estar perante um momento de transição, fundamental para o Médio Oriente, e para o mundo. Tunísia, Egipto, Jordânia, Argélia e Marrocos já se manifestam. O apoio, mesmo que passivo, do Ocidente, e um avanço justo, por ténue que seja, na Palestina, poderão ser uma bola de neve de justiça e democracia. Contudo, uma inércia activa, e a perpetuação da injustiça na Terra Santa poderão derreter essa bola de neve antes ainda de ter a oportunidade de rolar; e o mundo não será mais justo.
A democracia pode, deve, funcionar no Médio Oriente. Independentemente das suas idiossincrasias culturais, todos os indivíduos gostam de se poder pronunciar em liberdade e paz, todos gostam de ter uma participação na forma como são governados, e por quem são governados. Num mundo mais justo o poder é consesual, não imposto.
No Egipto democrático a Irmandade Muçulmana terá um peso mais forte de que o ocidente gostaria. Porém, é a juventude secular, sem esperança e vilipendiada, que se ergue. Esse será o seu contra-poder, não o da família Mubarak.
Em meados do século XX a Europa e os EUA nutriram o radicalismo islâmico, ao boicotarem o secularismo emergente no Médio Oriente. Nem sempre temos a oportunidade de mitigar erros passados.
Faz-me falta visitar o Egipto monumental, de povo afável e cultura milenar. Espero vir a fazer a próxima visita num Egipto mais pacífico, justo e democrático.

27 janeiro 2011

A resistência é o retorno

«A metrópole era suja, feia, pálida, gelada. Os portugueses da metrópole eram pequeninos de ideias, tão pequeninos e estúpidos e atrasados e alcoviteiros. Feios, cheios de cieiro, e pele de galinha, as extremidades do corpo reben­tadas de frio e excesso de toucinho com couves. Que triste gente! Divertiam-se a mofar connosco, atirando­-nos à cara que estava difícil, pois estava, que aqui não havia pretinhos para nos lavarem os pés e o rabinho, que tínhamos de trabalhar, os preguiçosos de merda, que nunca fizeram a ponta de um corno pela vida, que nunca souberam o que era construir uma vida e perdê­-la, os tristes, os pequeninos, os conformados. Sabiam lá eles o que eram os pretos, e o que éramos nós e o que tínhamos acabado de viver, cobardes filhos de uma puta brava. Insignificantes cabrõezinhos, se eu havia de dizer a verdade, se eu havia alguma vez de dizer a verdade. Os lerdos das ideias, lentos, com conta no Montepio, doen­tes dos olhos por olhar de viés para esses gajos que vêm cá roubar o pouco que é da gente, que a gente cá tem, esses retomados, tão altivos como príncipes que perde­ram o trono, e que hão-de recuperá-lo, julgam eles, oh, se não!, porque nada atiça as ganas como perder, e perder bem, à americana. Tão feios, tão pobres de espírito esses portugueses que ficaram, esses portugueses de Portugal, curtidos de vinho do garrafão. Feios, sombrios, pobres, sem luz no rosto nem nas mãos. Pequenos. »

Isabela Figueiredo, "Cadernos de Memórias Coloniais

26 janeiro 2011

Resistência.

Larguem o Facebook, voltem ao Feno!

16 janeiro 2011

Só para ver se nos livramos dessa imagem do Halal



E também para matar umas saudades de Lisboa