31 julho 2007

Oxford antes do Dilúvio - Ashmolean

Dentro do lendário museu Ashmolean, que não só é o mais antigo de Inglaterra (e, sendo de 1683, não deve estar longe de ser o mais antigo do mundo) como tem uma colecção notável de peças do Antigo Egipto, encontra-se o impressionante Altar de Taharqa. Onde estará melhor, no seco Egipto natal ou expatriado na diluviana Inglaterra? A minha opinião é politicamente incorrecta mas a pergunta é legítima.

30 julho 2007

Simplesmente insuportável

29 julho 2007

A Fórmula da Felicidade


Gin tónico + esplanada à beira-mar. Cheers!

26 julho 2007

O Tal Canal


Não sou entusiasta das explicações deterministas, mas parece óbvio que o Canal da Mancha, nascido na sequência de duas cheias ocorridas algures pelo Pleistoceno, contribuiu significativamente para que os ingleses se tornassem, em muitos aspectos, diferentes de nós, os europeus do continente. A Mancha é muito mais do que um braço de mar... No presente contexto isto pode parecer de mau gosto, mas não resisto a dizê-lo: God save the floods!

Olhe que não, olhe que não....

«Enquanto a Inglaterra proclama vitória contra a directiva europeia que obriga as empresas "a assegurar a segurança e a saúde dos trabalhadores em todos os aspectos ligados ao trabalho", continuam [os intelectuais conservadores] a apresentar o direito social europeu como uma encarnação do mal.»

Hoje, no Público, Rui Tavares refere-se a Inglaterra como se fosse um ninho do capitalismo selvagem. Quem a conhece sabe que está longe de ser tal coisa. Isto de ser um estado economicamente liberal que não desampara socialmente os cidadãos parece fazer confusão a certas pessoas, que têm tanto de inteligentes quanto de dogmáticas.

Inglaterra (para minha tristeza) continua a servir de âncora ao projecto europeu [Sir Humphrey (não o "nosso") explica bem o espírito por trás da coisa (que ao "nosso" bem agradará :-) ] e é isso que explica a rejeição da directiva referida, pois poucos países há que se preocupem ad nauseam com a segurança e saúde dos trabalhadores como aqui. Adiante.

24 julho 2007

Lá, como cá, a direita afunda-se

Por terras pictas

O meu silêncio deve-se, em boa parte, às minhas visitas às terras setentrionais desta ilha. Claro que, entretanto, fui operado pela primeira vez na minha vida e o meu caro Winston (carro) teve de ir ao médico outra vez. Se não fosse de tão venerável idade poderia dizer que é mais que meu filho (mesmo que estes, geralmente, não nos levem às costas).


Pela Escócia não pude deixar de validar aquele cliché das montanhas airosas (aqui vistas desde Aviemore) que nos preenchem constantemente o horizonte e que são acompanhadas por temperaturas de 8º (feels like 4º), chuvas de intensidade tropical (mas frias) e ventos quase ciclónicos. Afinal de contas estávamos em Julho. Ainda assim não me cansei de as olhar (e fotografar). No México vi montanhas imponentes e soberbas com o triplo ou mais de altura mas não nesta sobreposição de linhas do horizonte.



Andei no topo de algumas mas não podia deixar de conhecer alguns dos Loch’s escoceses. Caminhei em torno do Loch an Eilein, com o seu ruinoso castelo insular rodeado de montes cravejados de floresta alpina, onde fui picado por mosquitos de tamanho tropical e feitio highlander e aproveitei para baptizar o meu bastão de caminhada (prenda ideal para o marido da Fedra).

Porém, o ponto alto Lochento não poderia deixar de ser o Loch Ness e o castelo de Urquhart, extenso, perdido no meio do agreste do Verão escocês, ponto privilegiado para a observação da Nessie, que tímida se ficou pelas profundezas do lago. Tímida e esperta porque com o frio que fazia... E o lago é fundo, embora não seja uma barragem, deixem-me que lhes diga que chega a ter mais de 70m de profundidade e que é a maior massa de água doce da Europa ;-)

23 julho 2007

Com dignidade

16 julho 2007

Notícias de Marte


António Costa foi eleito presidente da Câmara de Lisboa com o voto de menos de 15% do eleitorado do concelho. Costa e Sócrates mostraram-se urbi et orbi triunfantes e vitoriosos. Em que planeta vive esta gente?

14 julho 2007

Lamento


A Loja das Meias do Rossio vai encerrar no próximo mês de Agosto. A Baixa continua a definhar lentamente, sem que nada se faça para o evitar. As lojas de prestígio, algumas delas centenárias, encerraram quase todas nos últimos anos, tendo sido substituídas por cadeias internacionais que dão a esta zona nobre da cidade um triste e decadente ar de centro comercial de subúrbio ao ar livre. É lamentável.

12 julho 2007

Sir Humphrey recomenda...


Não, não é um filme reaccionário, embora o título o sugira. Trata-se da história de uma menina francesa da classe média, educada num colégio católico e habituada aos confortos burgueses, cuja vida se altera radicalmente quando os seus pais, inspirados pelo esprit du temps ( a acção decorre nos inícios dos anos setenta ) se convertem aos ideais marxistas. Muda de casa, é forçada a abandonar a catequese e vê o seu lar invadido por "barbudos vermelhos". É um filme imensamente irónico e mordaz, que vale a pena ver.

11 julho 2007

Tempos que mudam 2.

O ministro decidiu "suspender" a sua decisão inicial de não difundir o filme nas escolas. Decidiu pensar um bocadinho e reanunciar a sua nova decisão no final desta semana. À suivre...

10 julho 2007

Tempos que mudam.

Em 2003, o Ministère de l'Education Nationale criou um prémio que recompensa pelas suas "qualidades artísticas" e "interesse pedagógico" um filme que conste da selecção oficial de Cannes. Do júri fazem parte seis professores e dois estudantes e do prémio têm resultado excelentes pacotes pedagógicos, que incluem a edição em DVD do filme premiado, distribuído e discutido nos liceus. Em 2003, o primeiro desses prémios foi para Elephant de Gus Van Sant que, para quem não se lembra, se inspira do que aconteceu no liceu de Columbine, onde dois adolescentes mataram 12 dos seus colegas.

Este ano quem ganhou o prémio foi um filme romeno, o mesmo filme romeno que ganhou a Palme d'Or, chamado 4 mois, 3 semaines, 2 jours de Cristian Mungiu. O filme passa-se em 1987 e é sobre um aborto clandestino - em 1987 todos os abortos na Roménia eram clandestinos, e havia muitos, porque os contraceptivos não existiam (a pílula e o esterilete intra-uterino eram, aliás proíbidos). O aborto praticava-se em todas as classes sociais, fora (mas sobretudo) dentro do casamento, e com muitos (admiráveis e corajosos) maridos que não acompanhavam até ao vão da escada as suas mulheres, com medo de serem presos.

Devido a pressões de grupos "pró-vida", o actual ministro da Educação Nacional acabou de proibir a edição em DVD deste filme, que contrariamente a todos os outros, não será distribuído nos liceus. O filme, extremamente duro, é denunciado pelos ditos grupos como "propaganda pró-aborto". Quem vir o filme saberá que é como dizer que o Apocalypse Now incita ao alistamento no exército.

Escrevo-o sem pudores: o que estes grupos "pró-vida" defendem é a ignorância e o desrespeito.

Guerra dos 30 anos : take 2.

Ou como mandar o ecumenismo pela pia abaixo e voltar a rezar - em latim*, claro - pela conversão dos Judeus. Donde se prova que o tempo histórico é feito de anacronismos, umas vezes mais "engraçados" do que outros. E de como o Dr Dude se devia pirar de Portugal o mais depressa possível, porque não tarda estará a ser exorcizado pelos mesmos Bispos que ontem, e segundo o Público, estão zangados com o Governo. Zangados com o Governo? Razões para estarem zangados com o Governo teriam se este quisesse acabar - como deveria e como está escrito na Constituição - com uma situação de favor que uma católica praticante (não é o meu caso) descreve, e bem, nestes termos (e a propósito de outro assunto). Donde se prova que esta vossa escriba não sofre de anti-catolicismo primário, como algumas más-línguas se apressariam a dizer, mas de anti-obscurantismo (ecuménico) por princípio. Não te preocupes, oh Dude, seremos assados na mesma fogueira e eu, com um sorriso nos lábios, repetirei a única frase que vale a pena repetir em latim*: et pluribus unum.

06 julho 2007

Para a Fedra - II


Como a nossa querida Fedra ainda não foi raptada pelos extra-terrestres que aterram dia sim, dia não em Washington (acredito em tudo o que vejo no cinema), deixo-lhe aqui outra sugestão: a de se imaginar com 77 anos, em 2054, bebendo um cházinho em casa da sua amiga Clara d'Ovo. Going down memory lane, a Fedra falar-me-á daquele restaurante indiano em East Dulwich (o Reino Unido terá sido, entretanto, destruído por uma epidemia zombica, à la 28 days later), e do estranho que é ter vivido durante uns meses na cidade que em 2054 é mais segura do mundo. Em 2054, Washington tem uma Unidade Precrime, vive de Minority Reports e tem um trânsito do caraças, com autoestradas verticais. E polícias voadores com fatiotas propulsionadas por mini-foguetes - os mesmo que, pelo andar da carruagem, começarão em breve a cruzar os céus de Paris...

05 julho 2007

Recomendações do Senhor Presidente do Conselho



Imagem gentilmente roubada ao Blasfémias

04 julho 2007

Casa do mundo. Goya!


A minha segunda casa académica, que frequentei com tanto gosto, teve o seu campus principal declarado Património Cultural da Humanidade pela UNESCO . Podem ler mais da história por aqui.

O grande padrinho

É triste a forma como Bush comuta a pena de um condenado porque este é seu amigo, dizendo que tem pena dele e da respectiva família. Sabendo-se que Libby foi condenado por acções provavelmente ordenadas pelo próprio presidente, Bush acaba por estar a comutar-se a si mesmo.

02 julho 2007

O tesardo e o cappucino.

Para os que ainda não perceberam, esta vossa escriba que dá pelo nome de Clara d'Ovo encontra-se actualmente a redigir um trabalho académico de alguma envergadura (física) e passa os dias ou a escrever em casa (escrever posts em blogues, claro) ou na biblioteca a ver as horas passar.

Hoje foi dia de ficar em casa, por isso aproveito para deixar no Feno uma série de pensamentos mais ou menos profundos. O próximo é profundíssimo, porque corresponde a uma necessidade psicológica básica, sobretudo no que diz respeito à frágil saúde mental dum "tesardo", que é uma pessoa que sofre de uma doença que se chama "tese". Essa necessidade é poder dizer o maior número de vezes possível um singelo "vêm como eu tinha razão?". Raramente importa a propósito de quê se tem razão, o que importa é transferi-la da tese (a "tese" que supostamente se inventa numa tese) para o mundo exterior, seja ela como cortar uma cebola ou enfiar um camelo pelo buraco de uma agulha (que é mais ou menos a tarefa duma tese).

Eu hoje transfiro tudo para o cappucino (um problema de grande importância). Este artigo de opinião do The Guardian vem confirmar a minha opinião de que 99,9% dos cappucinos que se bebem na Britain são uma bosta (e um roubo à mão armada). I quote, just to make me pleasure:

... buy a cappuccino in the UK and there is a fair chance it will be crap. "Cappuccino" these days - and, yes, I blame Starbucks and the other chains - seems to be interpreted as "an espresso drowned in hot milk", while latte is translated as "an even milkier espresso-flavoured hot milk".

Pois é. Quantas vezes é que eu vos disse isto? E quantas vezes é que eu vos disse para não irem ao Starbucks? Tsk tsk... Eu tinha razão. Vem no Guardian e tudo.

Mr Arnheim.

A propósito de uma nota de rodapé, acabei de me dar conta que o Rudolf Arnheim, nascido em 1904, ainda está vivo!

Para quem não o conhece, o Arnheim é um historiador de arte americano, nascido em Berlim, onde se formou em psicologia e onde escreveu - em 1932! - um livrinho sobre o cinema (comovo-me). Foi mesmo antes de emigrar para Itália... mas com as leis raciais promulgadas pelo Mussolini, o Arnheim teve de fazer as malas outra vez, desta feita para Inglaterra e daí para os Estados-Unidos. Parece que agora vive no Nevada. Tem 103 anos.

Como será ser o senhor Arnheim com 103 anos? Como será ter tido dez anos quando começou a Guerra? Como será ter vivido na República de Weimar, ter estudado psicologia nos anos vinte, e ter cruzado tantos daqueles que, apesar da catástrofe que se anunciava, mudaram para sempre a nossa forma de pensar e de ver o mundo? Como será ter feito as malas tantas vezes e ter atravessado o Oceano enquanto a Europa se auto-destruía, querendo destruir tudo o que ele era? Como será tudo isso?

... e no meio disso tudo, como será ter visto cem anos de cinema?