30 novembro 2006
28 novembro 2006
A coisa chamada mulher
«...fathers and daughters sign pledges to help keep the girl chaste before marriage. Daughters agree to "remain sexually pure until the day I give myself as wedding gift to my husband". Then the father gives the daughter a ring, to be worn on her fourth finger until it is replaced by a wedding band.»
Para que não se esqueçam que, por melhor que sejam tratadas, não passam de objectos nas mãos dos homens. Dos pais e dos maridos to be. É assim que são educadas desde pequenas. Mesmo que algumas se revoltem a maioria não o fará. E sempre me pergunto se Deus terá a mesma fixação que os Cristãos na virgindade das meninas.
P.S. Sabiam que a Turquia é o único país muçulmano onde é ilegal o homem violar a mulher?
26 novembro 2006
Cinco médios-centro?
25 novembro 2006
Altar
A minha querida bíblia!
Chegou hoje e já está no meu altar. É um sonho! 124 páginas de mapas, 223 de glossário, 50x30cm. Encomendei pelo The Guardian e ainda veio com uma enciclopédia da Penguin. Valem £180 custaram-me £13,5...
Agora desculpem-me que tenho de ir estudar a orografia do Butão. Não estou para ninguém.
24 novembro 2006
Londres. Outono, balanço.
Perde-se folhas - cores e reflexos. Ganha-se luz e novos objectos. Em Portugal, como a luz é intensa, o olhar seguia outros sentidos da estação.
Quase rendido ao estruturalismo.
Primeiro a agência. Munido de intenção, vontade e consciente de um conjunto de razões dirigi-me a três refeitórios diferentes. O objectivo era fugir à fatalidade do fish & chips. À medida que saltava de espaço em espaço o alento diminuía. Ao terceiro refeitório desisti. Fui esmagado pelas estruturas. Mas ainda me resta uma arma: o vómito.
Lembram-se?
Ai, faz tão bem saber com quem contar
Eu quero ir ver quem me quer assim
É bom pra mim e é bom pra quem tão bem me quer
23 novembro 2006
A única diferença verdadeiramente significativa entre Portugal e o Primeiro Mundo.
Epá, o Alberto João explica-te como se faz, ó López Obrador!
22 novembro 2006
Luigi.
Ghirri.
Uma vez que estão sempre aqui a falar de teses (bah...), eu acho que não se faz uma sem se estar (profundamente) apaixonado (pelo seu objecto)*.
Hoje em vez de passar mais um dia à procura do enigmático Filippo, a folhear revistas italianas dos anos trinta, recheadas de fotografias do Mussolini (vestido de mineiro, de aviador, etc.) e, inevitavelmente, a pensar no Salazar (ditador asténico e enfadonho) resolvi concentrar-me no Luigi. Que é um dos melhores fotógrafos italianos de sempre.
Que mudança! Entre o amor (já) tépido "ele-é-só-promessas" pelo fascista maneta que se pendurava de aviões para tirar fotografias presumivelmente tão esquisitas que ninguém se lembrou de as guardar, e o (re-) apaixonar-me pelo Ghirri, pelas suas cores anos setenta, as suas geografias imaginárias, os seus perfis de nuvens, os seus fabricantes de universos, as suas paisagens: que mudança! Foi como se o visse ainda pela primeira vez. Pela primeiríssima e única irrepetível e inesquecível vez.
* O melhor exemplo é um certo amante de Hemingway que reside actualmente na Mouraria. Radagast a discutir facas de obsidiana ilustra também esta teoria.
Livros II - ou Porque é que ser português E bonito sempre trouxe má fortuna.
"Vendo um grupo de mulheres índias à beira mar - conta Vespucci - os Portugueses mandaram desembarcar um dos seus marinheiros famoso pela sua beleza para que falasse com as índias (táctica tipicamente lusitana, certamente ainda utilizada pela Marinha nos dias de hoje, digo eu). As mulheres rodearam-no, prodigando-lhe carícias e expressões de admiração; mas entretanto, uma delas escondeu-se atrás das suas costas e deu-lhe uma paulada na cabeça, aturdindo-o. O infeliz foi arrastado dali para fora, cortado em pedaços, assado e comido".
Livros.
Outro dia comprei (por acaso e sem reparar no que estava a fazer) um livro do Italo Calvino que não conhecia (e que não me parece estar traduzido para português - desde já me ofereço aqui e agora para o fazer!): "Collezione di Sabbia". É uma colecção de crónicas e outros escritos publicados aqui e ali (no La Repubblica, no Corriere della Sera, etc.) que me chamou a atenção por incluir um artigo sobre a "cronaca nera", isto é a secção de "faits divers" mórbidos dos jornais (secção fascinante que mereceria por si só um outro post). O livro andou perdido dentro da minha mala e depois esquecido ao lado da minha cama durante umas semanas até que eu pegasse nele e o lesse de um só fôlego.
É excelente!!! Gosto sempre destes livros "menores" e desiguais, porque são como uma caixinha recheada de surpresas. O Calvino fala de tudo e de mais alguma coisa (mapas!, a árvore de Tule, pocilgas e arqueologia, o Japão, etc.) com a desinvoltura dum génio (que era) e a facilidade, a imaginação e o humor que lhe são característicos. Lembrou-me um outro livro (talvez irritante, mas sempre divertido) na mesma tradição enciclopédica do "eu-falo-de-tudo-e-mais-alguma-coisa" ("e-faço-vos-rir"): o "Como viajar com um salmão" do Umberto Eco. O Eco pode ser um gordo pretencioso e antipático - "una polpetta semiotica", diriam alguns - que nunca mais escreveu romance nenhum de jeito desde "O Nome da Rosa", mas viajar com ele (e com um salmão) é uma experiência inesquecível. E bem-disposta. Porque afinal de contas escrever (bem) não significa necessariamente mergulhar na imaginária seriedade das letras...
21 novembro 2006
19 novembro 2006
Nós é que inventámos a CNN.
"Fado expresses what we call "saudade" - when you cry for something. Fado songs and poetry became a means of communication in Portugal - like our CNN. It belonged to the working classes, to a mix of peoples, races, cultures."
"In Portugal now, you cannot walk on the street without hearing fado."
Grande Mariza. As suas afirmações são tão estúpidas que não precisam de comentários. Contribuem também para essa mistificação ridícula do país de poetas à beira mar plantado, que suspira e canta o fado desde que percebeu que não sabia fazer mais nada a não ser abusar dos outros enquanto podia (é o tal "mix of peoples, races, cultures").
Safaram-se, digo eu, as mulheres de bigode e os pedreiros que emigraram para França com uma mala de cartão e um garrafão de (pior que péssimo) vinho de cinco litros. Para que abusassem deles (é a justiça cósmica). Ao menos esses perceberem que os tais "poetas" não passavam de uma cambada de preguiçosos incapaz de fazer qualquer coisa de jeito e cujas máximas (poéticas) se reduzem quase sempre ao "vai trabalhar, malandro". Eles foram, malandros, e aos preguiçosos resta-lhes cantar o fado. Os outros que se amanhem. Como esses tais portugueses que no século XXI ainda têm de emigrar para serem explorados na Holanda.
16 novembro 2006
Terroristas à la carte
O que é preciso é que as pessoas não se preocupem, não se incomodem, toda gente sabe que a ignorância é uma benção. Quanto à liberdade de expressão e de informação...bem, isso da liberdade é sempre muito subjectivo.
Nesse aspecto, os anti-relativistas são muito relativistas.
Um pequeno passo paquistanês
«Under the controversial Hudood Ordinance, brought in under Gen Zia-ul-Haq from 1979, a rape victim had to provide four male eyewitnesses to the crime. Failure to do so would open the way to her being charged with adultery. The punishment for adultery is lashings and stoning according to traditional Islamic law, although such punishments were never implemented in Pakistan. (...) There have been 5,400 cases against women in Pakistan under the Hudood Ordinance, and a majority of them are concerned with rape and adultery cases.»
15 novembro 2006
Consumismo-1, Democracia-0
"Cuban dissidents who were given millions of dollars by the US government to support democracy in their homeland instead blew money on computer games, cashmere sweaters, crabmeat and expensive chocolates, which were then sent to the island".
"The Miami-based Acción Democrática Cubana spent money on a chainsaw, Nintendo Game Boys and Sony PlayStations, mountain bikes, leather coats and Godiva chocolates, which the group says were all sent to Cuba."
"I’ll defend that until I die,” Mr Hernandez Trujillo said of his decision to spend part of his group’s allocation on boxes of computer games. “That’s part of our job, to show the people in Cuba what they could attain if they were not under that system."
Acho que vou ali à Regent Street comprar uma caixa de Godiva.
14 novembro 2006
Ainda sobre o autocromo lá de baixo.
(Resposta a AM)
Estas fotografias são mesmo a cores. O processo autocromo foi inventado pelos irmãos Lumière em 1903. Os autocromos são placas de vidro cobertas por uma fina camada de grãos de amido (isto é, fécula de batata) tingidos de verde, vermelho e azul e depois por uma emulsão pancromática. A luz atravessa os grãos de amido, que funcionam como filtro, e depois da exposição e da revelação, as imagens resultam nesta pequena maravilha... Os autocromos são como diapositivos feitos de mil pontinhos de muitas cores.
A fotografia ali de baixo foi tirada em França, mais precisamente em Reims, Place Royale. Data: 1 de Abril de 1917. Reims foi completamente destruída durante a guerra: cerca de 90% da cidade foi arrasada durante 1051 dias de bombardamento.
O fotógrafo que tirou este autocromo intitulou-o, estupidamente, "Déjeuner de poilu : soldat en bleu horizon avec au fond une librairie endommagée". Por acaso conheço-o, o fotógrafo. Chama-se Paul Castelnau e fartou-se de tirar autocromos. Durante a guerra foi integrado na Secção Fotográfica e Cinematográfica do exército. Também fez uns filmes, sobretudo nas colónias francesas, sendo o mais conhecido "La traversée du Sahara en autochenilles". É um filme de 1923, patrocinado pela Citroën (as autochenilles são uma espécie de veículo com esteiras de tanque). Fartou-se de viajar o Castelnau. Até fez um documentário sobre a Terra do Fogo. Depois em 1944 mataram-no. Era colaborador.
Autour d'un wagon, campagne enneigée : travailleurs sénégalais (1917)
Une vieille femme avec un fichu rouge noué sous le menton (1917)
Porque será...?
13 novembro 2006
Surpresas...?
Curioso ter escrito isto em Fevereiro.
12 novembro 2006
God Save the Octopus!
Uma citação do Animals Act inglês de 1986:
BE IT ENACTED by the Queen's most Excellent Majesty, by and with the advice and consent of the Lords Spiritual and Temporal, and Commons, in this present Parliament assembled, and by the authority of the same, as follows:-
Preliminary
1. (1) Subject to the provisions of this section, "a protected animal" for the purposes of this Act means any living vertebrate other than man and any invertebrate of the species Octopus vulgaris from the stage of its development when it becomes capable of independent feeding.
Donde: o polvo é o único invertebrado protegido por legislação! Porquê? Porque apresenta um elevado grau de desenvolvimento psíquico: é capaz de aprender comportamentos e de brincar. De brincar!
Para quê dançar com lobos quando se pode brincar com polvos?
10 novembro 2006
Língua universal
08 novembro 2006
Sem palavras, a comoção quase que me leva às lágrimas. Só falta ouvir a Ágata a cantar o genérico da Abelha Maia.
07 novembro 2006
Cartografa-me.
Gilles Deleuze
Cartografia colonial
O terrorismo como perfomance.
Ele encena. Ele dramatiza. Ele imagina. Contudo, está corrompido pelo capitalismo. Faz a coisa mas só com limousines.
"He planned "back to back" strikes including packing limousines filled with explosives and detonating them in underground car parks, using a radioactive "dirty bomb", and a proposed gas attack on the Heathrow Express, Edmund Lawson QC told the court.
Barot also planned an additional attack, suggesting that a tube tunnel under the Thames could be punctured and allow water to flood into the London Underground network"in Guardian, hoje
Truques e baldrocas.
Aos meus ouvidos de portuguesa soa sempre bem: "non sono truccata". É como uma espécie de revelação. Porque apesar de diariamente despenteada e sem maquilhagem, também eu tenho truques. Só que são outros.
06 novembro 2006
Os pontos
04 novembro 2006
Os abutres.
(O artigo continua até à minha passagem preferida):
Kenneth Adelman, another Reagan era hawk who sat on the Defence Policy Board until last year, drew attention with a 2002 commentary in the Washington Post predicting that liberating Iraq would be a "cakewalk".
He now says he hugely overestimated the abilities of the Bush team. "I just presumed that what I considered to be the most competent national security team since Truman was indeed going to be competent," Mr Adelman said.
"They turned out to be among the most incompetent teams in the postwar era. Not only did each of them, individually, have enormous flaws, but together they were deadly, dysfunctional."
Infelizmente, não dá vontade de rir...
03 novembro 2006
O que esperamos da Europa?
Mesmo que quiséssemos minimizar o genocídio arménio, a xenofobia em relação aos curdos, a pena de morte suspendida apenas há um par de anos ou a perseguição moral, física e judicial de quem põe em causa a identidade turca, não poderíamos ignorar a sobranceria com que a Turquia quer negociar as suas condições de entrada na União Europeia, o que já pode dar uma ideia da sua postura quando eventualmente se encontre integrada na organização. Além da novidade que traz a cena diplomática internacional de um país querer entrar numa organização a qual não reconhece inteiramente.
A Europa ocidental tem uma história de atrocidades, tanto cometidas no seu seio como a povos exógenos. Nesse particular não é caso único; aliás, não conheço nenhum espaço geográfico-cultural que não as tenha cometido. No que é caso único, pelo menos até agora, é na capacidade de autocrítica. É essa capacidade que tem permitido a consolidação de um espaço de liberdade e respeito pelo outro notável. De tal modo notável que corre o risco de cair em extremos autofágicos. Aceitar no nosso seio um país como a Turquia, que desrespeita as suas minorias e não permite liberdade de expressão e opinião tal como nós a entendemos (e que terá, fruto do seu peso demográfico, uma influência muito grande nas decisões a tomar pelas instituições comunitárias), é um risco que não se deveria correr. A verdade é que nos comprometemos em negociar e agora há que cumprir a palavra (caso a Turquia cumpra as condições). Creio que apenas nos resta protelar o mais possível a entrada turca.
Tomámos muitos pequenos e demorados passos que consolidaram o maior período de paz na história da Europa e sabemos que a destruição é tarefa mais simples do que a construção. Não podemos tomar nenhum dos valores estabelecidos como um dado adquirido. Como sabe quem me conhece, não me move nenhum sentimento antimuçulmano, apenas tenho a minhas reticências ao que se pode tornar um corpo estranho num organismo que se sara gradualmente de feridas seculares.